quarta-feira, 18 de março de 2009

Mario Jorge, um poeta sergipano

Hoje tem poesia.

É de Mario Jorge*, um poeta sergipano.

Convocação

o fel do agora
amarga
mas é ilusório
as botas esmagam
mas pisam o transitório

o suor roubado durante séculos
o sangue derramado na luta milenar
o pranto chorado na falta de pão
na falta de amor, na escravidão
o grito abafado pelos grilhões traiçoeiros
as grades cruzadas para que ousa amar o irmão quando a Paz é crime
a vida feita de amarra dela mesma

tudo
faz brotar no solo
holocausto luminoso
do escuro passado
fazendo o braço que trabalha
dono da terra
da usina, do arado
e o coração viver do amor
cantando a canção do amanhã libertado

JORGE, Mario. Poemas de Mario Jorge. Aracaju: Gráfica J. Andrade, [1982], p. 20.

Mario Jorge é poeta sergipano. Sua poesia mais conhecida é a concretista. Largou o curso de Direito em Aracaju. Foi pra São Paulo onde largou o curso de Sociologia da USP. "Desbundou", como dizia-se nos anos 70, para os que deixavam a militância política para se dedicar às artes (e drogas...), mas teve grande produção anterior, na fase 'cepecista' (Centro Popular de Cultura - CPC da UNE). Essa poesia é dessa fase cepecista de Mario Jorge. Sua poesia concreta merece ser visitada.

Chico

quinta-feira, 12 de março de 2009

Gilmar Mendes está acima do poder que tem

Bom,

hoje tem política? Tem sim senhor!

Nas últimas semanas a imprensa e a mídia brasileira passaram a dar enorme destaque para a figura de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, o STF.

De uma hora para outra vemos o senhor Gilmar rodeado de microfones de todas as redes opinando sobre o que ele acha da vida, da política, dos movimentos. O homem quer falar, microfone nele!

Não há nada demais no chefe do poder judiciário da República Federativa do Brasil exercer o seu poder de chefe. Até porque o chefe do poder executivo, o Lula, faz isso e do Legislativo, o Sarney, também o faz. Dentro da lógica democrática é mais que legítimo esse tipo de atitude. Contribui, inclusive, para "o fortalecimento das instituições democráticas". Frase essa declarada por muitos inclusive, muitas vezes, por uns que já demonstraram que não estavam muito a fim de cultivar tal democracia defendida.

Natural então que Gilmar Mendes tenha os seus pontos de vista e que os defenda.

Sua opção por ficar do lado do banqueiro Daniel Dantas, liberando-o da prisão por mais de uma vez, já dá mostras de que o cara tem uma opção por um lado, digamos, duvidoso. Ora, não há dúvida das intromissões de Dantas nos meandros do poder. De suas articulações, lobbies e compra de 'apoios'. A Revista Carta Capital, por anos vem denunciando as falcatruas do banqueiro. A grande mídia faz-se de tonta e só em casos extremos - quando o assunto realmente aperta - é que noticia alguma coisa. Geralmente Willian Bonner só lê lotinha no visor. Notinhas essas que ele mesmo escreve, afinal é o Editor-chefe do Jornal Nacional. Imagens nenhuma, entrevistas nenhuma, defesas e acusações pouquíssimas. A mídia faz questão de não tocar no assunto. Tudo isso pesa CONTRA nosso 'Super Ministro do Judiciário'.

O que não dá pra engolir é o uso que ele faz dessa posição.

Espera-se do chefe do poder judiciário um tato muito maior pra lidar com essas questões, a meu ver, por duas simples razões:

1) Gilmar Mendes não foi eleito para o cargo que ocupa! No máximo foi 'escolhido' entre seus pares para representá-los na presidência do Supremo. Não recebeu voto da população, não é mandatário de nada. Sua posição é meritocrática, baseada no seu histórico e nos seus estudos, obviamente. Lula recebeu 62 milhões de votos. Sarney representa no Senado o povo do Amapá e foi eleito indiretamente para a Presiência do Senado. Mendes fala mal do MST, mas não tem que dar satisfações a uma 'base eleitoral' simpática ao movimento. Ele não tem que dar satisfação pra ninguém a não ser pra si mesmo.

2) Gilmar Mendes age acima do próprio presidente da República! O Lula fala muito, mas ele não diz tudo o que ele queria dizer. Por uma simples razão: sua posição impede reações mais radicalizadas. Seu cargo elegível e mandatário, pesa na hora de fazer o enfrentamento direto. Claro, ele é chefe de Estado e tem que agir como tal, embora algumas vezes cometa algumas gafes ou fuja do protocolo. Mas ele tem um compromisso com o Estado brasileiro.

Então, quando Mendes se vê arrodeado de microfones da mídia ávida por um 'porta-voz' dos de cima, tome ataques ao MST. Criminaliza o movimento com a maior naturalidade. Pega um fato isolado e cria com ele um fato político, reverberado em todas as TVs grande e nos 'jornalões'.

Suas posições, enquanto Presidente do STF, deviam representar as posições do próprio tribunal. Não as suas, nem do grupo que ele representa no poder.

Gilmar Mendes é um desserviço pra nossa democracia, quando a ela deveria servir.

E isso é entristecedor.

Chico

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Gordo e a Fonte (Ronaldo, O Fenômeno)

Bom,

domingo assisti ao jogo Palmeiras 1 X 1 Corinthians.

A mídia, durante a semana inteira só falou disso. Só se falava se o Gordo entraria ou não nessa partida. Na quarta-feira, no jogo contra o Itumbiara ela nada tinha feito. Ao final da partida em Goiás, quando dezenas de repórteres o cercaram (mais os seus seguranças especiais, claro) o melhor a acontecer com ele foi mesmo a 'microfonada' que um repórter deu na sua testa. Isto porque, depois de uma performance mais que pífia o que dizer? O que a assessoria de marketing disse pra ele falar? Como dar satisfações daquilo que acabara de ser demonstrado em campo? Enfim, melhor mesmo é se fazer de "testa superdolorida" e sair rapidamente.

Aliás Ronaldo só tem olhos para os microfones da Globo. Imagina se ele ia responder ao repórter da rádio de Mineiros, ou de Rio Verde, todas goianas...

Pois bem, eis que chega o jogo de Presidente Prudente. O maior clássico de São Paulo, talvez o maior do Brasil. Todos os olhos e TVs de olho. O Brasil inteiro ligado...

Ronaldo entra no meio do segundo tempo, dá um drible bonito, pronto, 'o fenômeno' voltou! Depois, num drible de corpo rápido fica livre e solta uma bomba... no travessão! Quando tudo parecia terminar, aos 47 do segundo tempo, de cabeça (quem diria...) marca o gol de empate do Corinthians. Livra o time da derrota, marca o primeiro gol depois dessa nova volta e a mídia goza de prazer!

Finalmente a fonte ($) vai voltar a render! Vendem essa história do retorno há alguns meses e a única coisa que tinham pra nos mostrar era a barriga diminuindo... Agora não, tem gol, alambrado caindo, fiel ensandecida... "O fenômeno está de volta"! Não param de repetir.

Tudo bem, foi legal. Vamos consumir! Vamos comprar no Visa, novo patrocinador do Corinthians.

Aliás, isso também vale comentários.

Até domingo eles estavam sem patorcinadores (!). Punham a culpa na crise, mas parece que, finalmente, o Visa (cartões de crédito) fecharam o patrocínio. Na camisa, na frente, em azul e grande a inscrição "Go." e embaixo, pequeno, Visa. What is this?!

No intervalo do jogo um anúncio da Visa, dizendo que explicaria o que era 'Go.' no intervalo do Fantástico, um dos mais caros da TV. Não vi a campanha no domingo, mas depois vi a propaganda bonita.

O problema é que nem sempre essas propagandas mundiais (tipo dos ursinhos da Coca Cola no Natal) funcionam. Senão como explicar, nos letreiros finais a tradução "vão" ('go', em inglês) em cor diferente? Ficou feio...

E assim "ganham-se, barganham-se..." como diria Caetano.

E nós consumimos Ronaldo, comemos Ronaldo, vestimos Ronaldo...

Ê vida.

Chico

terça-feira, 10 de março de 2009

O início é sempre um parto e um martírio

Bom,

entrei - com atraso - para o mundo dos 'blogueiros'. Confesso que não tenho muito tato para tal, nem fico de blog em blog, nem nada.

Apenas tenho uma vontade de escrever sobre coisas que penso e achei que seria uma solução adequada esta, uma vez que meu 'caderno de campo' nem sempre pode ser acessado do trabalho.

Dei este nome de 'Chivo vê TV' em homenagem a Telmo Martino, que nos idos dos anos 90 lia-o na extinta - e maravilhosa - revista Interview e tinha uma coluna genial chamada "Telmo vê TV". Então, de cara meu blog não tem uma originalidade total, mas tem uma inspiração bacana.
Para aqueles que leram o Telmo não pensem que serei com o mesmo. Não tenho toda aquela sapiência, muito menos aquele humor fantástico com que ele caracterizava personagens televisivos e situações cotidianas. Não.

Tenho idéias soltas, que, às vezes - e muito às vezes -, vejo coincidentemente aparecerem em outros veículos. Nada melhor que exercitar as idéias e contribuir para o pensamento cibernético (uau!) ANTES que alguém o faça. Pura pretensão na verdade.

De mais a mais eu gosto de televisão. Também gosto dos livros - gosto mais até -, mas a TV tem um discurso que me intriga, seu formato, suas ideologias, seu 'serviço sempre a alguém' é que me interessa. O que querem dizer com esta notícia? A quem interessa este ou aquele tipo de análise? Onde está a verdade? Ela existe? Fora as gafes, as bolas-fora, os enredos, as personagens que aparecem cotidianamente diante da gente, sem que necessariamente tivéssemos solicitado.

Mas não vou ficar só com a TV. Vezenquando aparecerão opiniões pessoais sobre os mais variados assuntos, do lixo da minha rua aos mísseis da Coréia do Norte ou do Irã. Não importa. O que vale é emitir opinião, dado que é só o que se faz, mundo globalizado afora.

Sejamos então atentos e críticos, altivos e fortes, rebeldes e criativos. O mundo precisa é de um pouquinho mais de senso crítico.

Aviso aos navegantes: estou só no começo.

Chico